O governo espera iniciar em outubro a construção do satélite geoestacionário brasileiro, um projeto orçado entre US$ 600 milhões e US$ 660 milhões. A iniciativa, que já estava em andamento, ganhou impulso após as denúncias de que as comunicações de dados do Brasil, inclusive as da presidente da República, estariam sendo monitoradas pelos Estados Unidos. Ele deverá entrar em órbita em 2016.

Hoje, o País está numa situação vulnerável. Comunicação de dados, telefonia, sinais de TV paga e até comunicações militares passam pelo satélite da Embratel, empresa que já foi estatal mas foi privatizada em 1997. Hoje, está nas mãos do empresário mexicano Carlos Slim, dono da operadora Claro.

“Alugamos satélite de uma empresa estrangeira”, disse ao Estado o presidente da Telebrás, Caio Bonilha. “Hoje, se tivermos algum problema, não temos controle nenhum sobre ele.” Assim, numa situação de guerra, por exemplo, o satélite pode ter sua posição alterada e inviabilizar as comunicações no País.

O governo quer comprar o satélite e a tecnologia. No mês passado, foi escolhido um grupo franco-italiano, o Thales Alenia Space, para fornecê-los. O satélite vai ser construído pela Visiona, uma joint venture entre a Telebrás e a Embraer, que será uma montadora de satélite. A tecnologia ficará com a Agência Espacial Brasileira (AEB), que vai irradiá-la a partir de um polo em São José dos Campos.

Com o novo satélite, pretende-se também aumentar a segurança das comunicações. Hoje, boa parte dos dados que transitam pelo satélite da Embratel é aberta. No futuro modelo, os dados passarão pela Telebrás.
O equipamento brasileiro também terá dispositivo que desligará terminais não autorizados. Segundo denúncias feitas a partir de documentos do ex-técnico americano Edward Snowden, informações podem ter sido coletadas nas comunicações por satélite. Outro objetivo do satélite brasileiro – para Bonilha, o mais importante do ponto de vista social – é levar internet banda larga a todo o País. Ao longo deste ano, a Telebrás implantou uma rede de fibra ótica na Esplanada do Ministério. “A rede está lá, basta instalar os equipamentos e ligar os pontos”, disse Bonilha, destacando que o equipamento é 100% nacional.

‘Falsas’. O presidente em exercício, Michel Temer, e o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, repudiaram ontem a atitude do governo dos EUA de espionar a presidente Dilma Rousseff mas não opinaram se o episódio deve levar ao cancelamento de sua visita a Washington, em outubro. A questão, segundo eles, deve ser resolvida pela via diplomática.

Segundo Bernardo, os Estados Unidos não apresentaram, até agora, “nenhuma explicação razoável” para o “lamentável” episódio, e todas as justificativas sobre a espionagem “revelaram-se falsas”. Dias depois da revelação sobre o caso, o governo americano alegou que a espionagem se destinava também “a proteger outros países” contra o terrorismo.

JP