“Não é possível alguém morrer de asma dentro de uma UTI. Esse hospital matou meu filho. Por que não me mataram? Eu preferia mil vezes estar naquele caixão no lugar dele”, desabafou Flávio Dino (PC do B), ex-deputado federal, juiz federal por 12 anos e atual presidente do Instituto Brasileiro do Turismo (Embratur), durante o sepultamento de seu filho Marcelo, de 13 anos, ontem (15), em Brasília.
“Lutei a vida inteira por justiça para hoje sofrer uma injustiça dessas. Não pode haver dor maior do que o pai enterrar um filho tão jovem, morto de uma forma tão imbecil”, disse Dino, um dos políticos mais promissores do Maranhão, candidato a prefeito de São Luís em 2008 e a governador do estado em 2010 – em ambas as eleições com desempenho notável, apesar de derrotado nos dois pleitos.
Marcelo Dino Fonseca de Castro e Costa morreu no início da manhã de terça-feira (14), na UTI do Hospital Santa Lúcia – um dos maiores de Brasília –, onde havia sido internado na segunda-feira, pouco depois do meio-dia, após sofrer uma crise de asma durante uma atividade física na quadra esportiva do Colégio Marista (609 Asa Sul),onde cursava o 9º ano do Ensino Fundamental.
A polícia, o Ministério Público e o Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal apuram suspeita de negligência e erro médico no atendimento ao garoto. Flávio Dino postou em seu Twitter que o Hospital Santa Lúcia omite informações relevantes sobre o caso.
É a segunda vez neste ano que o Hospital Santa Lúcia – localizado na 716 Asa Sul – é investigado pela polícia por suposta responsabilidade por mortes.
Na noite de 18 de janeiro, o hospital não quis atender o secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira, que morreu na madrugada de 19 de janeiro no hospital Planalto, após sofrer um infarto agudo do miocárdio e não ser atendido tanto no Hospital Santa Lúcia como no Santa Luzia.
Duvanier não teria sido aceito no Santa Lúcia por não portar talão de cheques, necessário para deixar uma caução (garantia de pagamento) no hospital. A direção da casa de saúde negou o fato.
A mesma 1ª Delegacia de Polícia que investiga o caso da morte de Marcelo Dino apura a negativa de atendimento a Duvanier. A própria presidente Dilma Rousseff ligou para o ministro Alexandre Padilha, da Saúde, exigindo “providências exemplares” em relação ao caso da morte de Duvanier.
Dino transtornado – Durante o sepultamento de Marcelo Dino – que levou mais de 200 pessoas, entre colegas da escola, familiares e autoridades ao Cemitério Campo da Esperança –, o presidente da Embratur, Flávio Dino se abraçou, emocionado, ao governador do DF, Agnelo Queiroz (PT), que já foi de seu partido, o PC do B, e pediu que ele ajudasse na apuração das autoridades sobre as causas da morte do menino. “Isso tem de ser feito para que Marcelo possa descansar em paz”, disse Dino a Queiroz, transtornado. O governador chegou a chorar após o pedido.
Diversas autoridades estiveram presentes ao velório e enterro de Marcelo, entre elas o vice-presidente da República, Michel Temer; o procurador-geral da República, Roberto Gurgel; os presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP) e da Câmara, Marco Maia (PT-ES); e o ex-presidente do STF, ministro Gilmar Mendes.
Os ministros do Turismo, Gastão Vieira; das Relações Institucionais, Ideli Salvatti; e da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, também levaram solidariedade à família de Dino.
O PC do B enviou seus principais representantes, entre os quais o ministro do Esporte, Aldo Rebelo e o ex, Orlando Silva.
‘Peixinho’ – Portando faixas e cartazes, centenas de amigos e colegas de Marcelo do Colégio Marista entoaram músicas dos grupos Legião Urbana e Paralamas do Sucesso, os preferidos do garoto, que era torcedor do Flamengo e amante de esportes.
Uma das faixas tinha a inscrição “Peixinho, hoje um pedaço de nós segue com você”. Colegas de Marcelo no Marista explicaram que o apelido “Peixinho” foi dado ao menino por causa de um casaco com a estampa de um peixe que ele gostava de usar.
Investigações – O Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF) confirmou que já abriu uma sindicância para apurar as circunstâncias da morte de Marcelo Dino.
A sindicância – que avaliará todos os procedimentos médicos adotados desde a internação do adolescente no Hospital Santa Lúcia até seu óbito – correrá paralelamente às investigações da Polícia Civil e do Ministério Público.
Este último, por meio da Promotoria de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde (Pró-Vida), informou que apreendeu o prontuário do garoto e 27 ampolas de medicamentos ministrados pelos médicos das 5h30 às 6h15 [horário de Brasília] de terça-feira, intervalo de tempo em que Marcelo apresentou piora em seu quadro de saúde.
Os três médicos que atenderam Marcelo Dino no período em que ele esteve internado no Hospital Santa Lúcia deveriam ter prestado depoimento na quarta-feira ao delegado Anderson Spíndola, titular da 1ª Delegacia de Polícia, que está à frente do caso. No entanto, os depoimentos foram transferidos para depois do Carnaval, pois a direção do hospital solicitou à polícia o adiamento das oitivas, alegando que os profissionais tinham consultas e cirurgias agendadas para a quarta.
Em nota emitida na terça-feira, a direção do Hospital Santa Lúcia negou negligência no socorro, erro no tipo de remédio ou falhas em sua administração. (Com portais)
POR OSWALDO VIVIANI*
Fonte: JP